sexta-feira, 26 de abril de 2013

Dica do Dia - Sexta-Feira

Querida Vigis,

              Sexta-feira, dia de comemorar o final da semana e do sucesso alcançado!
              Vai sair, encontrar os amigos?
               Lembre, a vida não pode girar em torno da comida. 
               Tudo bem, você sabe, só faltou avisar para o seu estômago que fica roncando!
                Assim, avise para o dito cujo que vai fazer um lanche saudável antes de sair e não sucumbir aos quitutes calóricos e que ele pare de fazer barulho no meio da festa!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Dica do Dia

Querida Vigis,

                 Se uma das refeições do dia não der certo, não se desespere. Essa não será a última refeição da sua vida.                      Prepare-se para acertar  a próxima.

terça-feira, 23 de abril de 2013

A Reconstrução do Pássaro do Frio

Querida Vigis,

         Alberto Bresciani é poeta, escritor, magistrado e várias outras coisas importantes, por exemplo, marido da Rita e pai do Filipe e do Eduardo. Culto, sensível, amigo dedicado....só qualidades e nenhum defeito! Podem acreditar !
         Alberto, Rita, Filipe e Eduardo são amigos muito amados!
        

a reconstrução do pássaro do frio

A RECONSTRUÇÃO DO PÁSSARO DO FRIO
Alberto Bresciani
Sentou-se diante do computador e esperou que as palavras deslizassem suave e continuamente de sua cabeça para seus braços, para as mãos, os dedos, que viessem com a inevitabilidade do fluxo sanguíneo, brotassem facilmente. Como respirar (ainda que não quisesse respirar). Era seu trabalho.
Ia da tela ao teclado. Algum texto. Um poema extremo, revelando as feridas maquiadas, uma crônica dessas que confessam, conto ou romance. Qualquer coisa que arrastasse para longe a história mal contada que era a sua. A tela e o teclado eram a interlocução possível.  Eram a única interlocução. Acostumou-se a falar apenas o necessário. Muitas vezes se esquecia da própria voz.
As palavras também constroem mundos para quem escreve. É como desenhar um cenário pouco a pouco e nele inserir-se com a virtualidade de um Thron ou como Alice no país dos desastres. Escrever abafava seu vazio.
Primeiro de janeiro: a possibilidade de recomeçar. Uma intuição nele persistia sem a coragem que lhe desse matéria, como quase cair e ceder no último instante. Um novo ano não tem muitas utilidades. Marcador do tempo cada vez menor, ameaça para tudo o que não se cumpriu. Entretanto, possibilidades esperam dentro de um livro como incompreensíveis partículas de pó no raio de sol intruso. A dúvida rondava.
Sim, as palavras deveriam descer como o vento gelado que cortava a cidade na noite anterior. Cruelmente até. Aceitaria. O vento ainda ameaçava aquela manhã, esse vento que dava voltas ao mundo. Talvez houvesse passado sussurrante pelos corpos do hemisfério quente que abandonou (que o abandonou desde o início). O frio o aprisionou. O acidente fatal. Ela era sua crença plana. Em tudo. Levou seu tudo. Não fazia mais sentido.
Lembrou-se da véspera, dos fogos que morriam abaixo de zero, dos gritos, os movimentos de dança, encanto, cumprimentos elétricos,  encontros. Por nenhuma razão, quando a contagem regressiva progredia, vieram-lhe à mente as promessas de felicidade da avó encerrada pelo tempo no capítulo findo. Ela se chamava Maria. Então, por fração de segundo, a casa inteira daquela avó o abraçou e o tomou de volta. Um presságio se cumpriu e evaporou. O segundo se foi. Assim como se desfez a chance de sua vida. A multidão ainda se comprimia. Homens e mulheres, mulheres e mulheres, homens e homens, pequenas e grandes famílias, todos se agarrando à chance de sobreviver, voltar minutos contra o destino inexorável.
Saíra esquecido da data e sua aparência destoava. Encaravam-no. Talvez não compreendessem. A ele que havia renunciado fazia tanto ao engano dos espelhos, estrangeiro tão estrangeiro de si mesmo. Acostumou-se a ver de dentro da armadura seca que era o corpo. O copo, só, único, ali, de ontem, já vezes bebido e bebido.
O computador ligado. Nas postagens da rede social, as fotos. Guardavam as personagens quentes muitos anos depois. Continuariam assim, escondendo a relatividade de tudo. Lá do outro lado. Toda aquela gente o tempo todo.
A temperatura externa não congelava as palavras. Sabia. Só quase paralisava o pássaro assustado sobre a neve no jardim do edifício em frente. Plantas sem esperança e em geometria organizada. As palavras não apareciam. Foi buscar um café. Era outro primeiro de janeiro e era longe. O silêncio era o texto inteiro. Era muito. Dizia tudo e tanto. Impossível escrevê-lo.
Mudou-se quando já não mais suportava lembrar-se. Subira aquelas suas escadas tantas vezes. No início, sentia-se no cenário de algum dos filmes que assistira na adolescência. Foi seu primeiro apartamento deste lado. Foi o único.  Tudo se desgasta. Até o gosto, pensou.
Voltou com o café. Colocou-o sobre a mesa. O pássaro insistia em sua busca por alimentos. Mesmo assim a vida seguia. Os pássaros, lá onde fora ele, tinham destino mais fácil. Aqui, o céu extremamente azul enganava os sentidos àquela hora do dia. Os sentidos são presa fácil. A tela ainda o desafiava.
Desviou a visão para fora. O filhinho da vizinha ruiva estava na calçada, fixando o pássaro. Moravam os dois, ruiva e filho, no andar inferior. Passava por eles. Não conversava. Não tinha o quê. Levantou-se, procurou por ela. Não a viu. Veio-lhe o pânico. Atravessar ruas quase inofensivas podia ser fatal. O acidente diante de casa. O brilho dos cabelos dela no vermelho sobre o asfalto, as luzes, as vozes, o seu grito, fim, o dela e o seu. Abriu a janela e o frio quase o cegou. Procurou ainda uma vez. O medo. Sem pensar, correu para a porta. Esbarrou na mesa e o café caiu sobre ele. Desceu em disparada. Saltava degraus. Tropeçou. Mergulho. Foi para a portaria. Pouco via. Cego. O menino só. A rua. Quase não teve como deter-se ao chegar ao térreo. Disse na língua do lugar: "o menino sozinho!" Foi estacionar na calçada.
A vizinha ruiva, encostada ao portal, ria. Percebeu o susto e o engano. Chamou o menino. A travessia foi tranquila. Ele, tentando recobrar o ritmo da respiração, não sabia o que fazer. Percebeu suas calças sujas de café. Ela ainda ria.  Aos poucos, a face feminina e suave se deteve. Os olhos verdes refletiram os dele. Havia um estranho universo pulsando naquelas órbitas de paz e folhas. "Toma um café?", ela perguntou. Ele assentiu, subindo lentamente. Veio-lhe o impulso de libertar suas asas, estendê-las. Ela tocou em seu braço.